Histórias que cruzam a linha de chegada

Maratona Internacional de Porto Alegre

Histórias que cruzam a linha de chegada

De um tumor descoberto por acaso à estreia em casal no Desafio do Gaúcho, corredores da região transformam desafios pessoais em combustível para os 42 quilômetros

Histórias que cruzam a linha de chegada
De Estrela, o casal Ronilda e Juarez Ávila também estarão na maratona. (Fotos: divulgação)
Porto Alegre

Dois anos após descobrir um tumor logo após cruzar a linha de chegada da Meia-Maratona de Porto Alegre, o lajeadense Ismael Schossler volta à capital para viver o maior desafio da sua trajetória como corredor: encarar os 42,195 km da Maratona Internacional de Porto Alegre, neste domingo, 8. A prova, uma das maiores e mais tradicionais do Brasil, reunirá 25 mil atletas de todo o país e do exterior. Além de Ismael, estarão nomes da região que também carregam consigo histórias de superação, recomeço e busca por limites – como Murilo Moraes, que sonha em estrear com menos de 3 horas, e o casal Ronilda e Juarez Ávila, que vai correr 63 km em dois dias no Desafio do Gaúcho.

No caso de Ismael, a corrida ganhou um novo significado desde junho de 2023. A prova era mais uma medalha para a coleção e um o natural no crescimento como corredor amador. No entanto, a partir dali, tudo mudou. Ainda na euforia da prova, sentiu fortes dores abdominais e procurou atendimento médico. O que parecia um mal-estar comum revelou-se algo muito mais sério: um tumor de 12 centímetros em uma das glândulas suprarrenais.

“Foi um choque. O primeiro diagnóstico indicava que havia possibilidade de ser um tumor maligno, com metástase. Escutei a palavra câncer e entrei em pânico. A corrida, que era meu refúgio, precisou ser deixada de lado. Foi um período de medo, exames, cirurgia e muita oração”, conta.

Lajeadense Ismael Schossler volta à capital para viver maior desafio da trajetória como corredor

A cirurgia aconteceu em setembro de 2023. O tumor foi removido por completo e, para alívio geral, o laudo final confirmou que era benigno. A partir dali, começou outro tipo de prova: voltar a correr. “O retorno foi muito gradual. Não sabia se o corpo iria reagir bem. Cada treino era uma conquista. Reaprendi a respeitar meus limites e valorizar o básico: o fôlego, o o, o suor. Aos poucos, fui recuperando confiança”, relata.

Nos meses seguintes, Ismael participou de cinco meias maratonas e retomou o ritmo de treinos com consistência. Em fevereiro, tomou uma decisão ousada: estrear na Maratona de Porto Alegre, agora nos 42,195 km. Para ele, será mais que uma corrida – será uma homenagem à vida e à capacidade de recomeçar. “Se eu cruzar a linha de chegada no domingo, será meu momento mais especial como atleta amador. Quero que cada quilômetro seja uma celebração da vitória contra o medo, a ansiedade e o que poderia ter sido. Estou indo sem pretensão de tempo. Só quero concluir, com calma, gratidão e alegria.”

Sub-3h na estreia

Enquanto Ismael encara a maratona com emoção e espírito de superação, Murilo Moraes, de Taquari, vai na direção oposta: com 27 anos e foco em performance, ele estreia nos 42 km com um objetivo ousado – completar a prova em menos de 3 horas, algo reservado a apenas uma pequena parcela dos corredores amadores.

Murilo começou a correr de forma mais intensa em 2023 e rapidamente evoluiu. O gatilho foi a participação na tradicional Travessia Torres–Tramandaí, onde correu 39 km em trilhas, areia e sol forte. “Foi um desafio físico e mental enorme, mas me deu a certeza de que eu conseguiria encarar uma maratona de rua. A partir dali, iniciei o ciclo de treinos com a assessoria GT Run, com foco total na prova de Porto Alegre.”

Murilo começou a correr de forma mais intensa em 2023 e rapidamente evoluiu

Desde janeiro, a rotina foi intensa: cinco treinos por semana, planilhas rígidas, atenção à alimentação e ao descanso. Em março, chegou a correr 160 km em sete dias. “O desgaste é inevitável, principalmente na fase mais pesada do ciclo. Mas fui fiel ao plano, mesmo nos dias de chuva, cansaço ou falta de vontade. Agora, confio no processo. Quero correr solto, leve, mas forte. Se o clima e o corpo ajudarem, vou buscar o sub-3h.”

“Desafio do Gaúcho”

De Estrela, o casal Ronilda e Juarez Ávila também estarão na maratona, mas com um desafio duplo: no sábado, correm a meia-maratona (21 km); no domingo, enfrentam a maratona completa. O combo de provas é chamado de “Desafio do Gaúcho” e, se completado dentro do tempo-limite, garante medalha extra.

Ronilda já soma 14 maratonas no currículo e não é novata nesse tipo de desafio. Mas será a primeira vez que terá a companhia do marido na prova principal. “Juarez sempre correu, mas estava mais focado nas distâncias curtas. Neste ano, decidimos fazer a preparação juntos, e foi muito especial. Nos finais de semana, fazíamos treinos longos pelas trilhas de Estrela, um incentivando o outro. O mais importante é que vamos cruzar a linha de chegada juntos.”

Edição histórica

A edição de 2025 é histórica. Criada em 1983 com apenas 132 participantes, a Maratona Internacional de Porto Alegre celebra 40 anos com recorde de inscritos: são 25 mil atletas, de todos os estados brasileiros e mais de 20 países. Organizada pelo Clube dos Corredores de Porto Alegre, é a mais antiga maratona do país.

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