O 20º episódio do programa O Segredo da Infância, transmitido direto do estúdio da Rádio A Hora em Encantado, com patrocínio do Espaço Flores.Ser, trouxe ao centro da conversa o projeto Parada Literária, desenvolvido pela EMEF Érico Veríssimo. A edição, conduzida pela facilitadora de processos de inovação social, Ana Fausta Borghetti, contou com a presença da diretora Josi Moretto Silva e dos alunos Isabele Costa, Natalia de Souza, Angelina de Brito Henika, Sofia Alessio, Angerlica Thomas e Antony Alessio.
Muito além de um simples incentivo à leitura, o projeto Parada Literária revelou-se um potente movimento de reconstrução e pertencimento. A escola enfrentou duras perdas com a enchente que destruiu a biblioteca construída com o envolvimento dos próprios alunos. “Perdemos o acervo que era de mais de mil livros”, contou a diretora Josi. “Precisávamos fazer algo. Não tínhamos espaço. Os livros que ganhamos de doação ficavam na sala de aula. E agora que a gente voltou com tudo, com biblioteca específica, ambiente próprio para isso, pensamos em fazer essa Parada Literária.”
A proposta se espalha por todos os níveis de ensino, do pré ao nono ano, com um gesto simples: parar por 15 minutos para ler. “Toda a escola para. Professores, equipe diretiva, todos param para ler”, explicou a diretora. Ao som de uma sineta nos corredores, alunos mergulham nos livros, criando uma cultura de concentração e conexão com o texto. “Tem turmas que ficam o período inteiro lendo”, acrescentou ela. “A gente lê e apresenta o livro para os colegas”, acrescentou Angelina.
A condução do episódio trouxe à tona dados importantes sobre os desafios da leitura no Brasil. “Às vezes parece que esses projetos são simples, mas quando a gente olha para os números, vê o quanto é necessário. Na região Sul, em 2024, tivemos uma queda de 58% para 53% de leitores, segundo o Instituto Pró-Livro”, destacou Ana Fausta. Para ela, o contato com o livro físico é também um convite à sensibilidade. “A gente precisa desacelerar. A literatura é uma arte… trabalha conosco não só o pensamento, mas também esse sentir, esse processo de expressar os sentimentos e emoções.”
Essa ideia ecoa nas palavras da diretora Josi, que defendeu o valor da materialidade do livro. “O livro físico nos torna mais humanos. É o sentir, a emoção, viver, imaginar, estar presente consigo mesmo.” Isabele, aluna do 6º ano, confirmou esse envolvimento dos colegas: “Tinha gente que reclamava quando parava de ler, porque queriam ler mais. Ninguém conversa. Todos aproveitam bastante.”
As atividades extrapolam a leitura silenciosa. Os alunos têm participado de propostas criativas e expressivas, como o Cabide Literário, que encantou Natalia. “A gente retirou um livro e ficamos com ele uma semana para ler… depois em casa com a família era para decorar o cabide do jeito que a gente quisesse, podia ser inspirado no livro.” A exposição dos cabides permitiu que os alunos compartilhassem suas impressões e instigassem os colegas a conhecer novas histórias.
No quarto ano, outra iniciativa transformou o espaço de leitura com almofadas personalizadas com capas de livros, como relatou Sofia. A produção autoral também ganhou destaque. Antony e Angerlica se uniram para criar um livro inspirado na série “Grupo dos Rosa”. “O Antony me pediu para fazer em casa tudo”, contou Angerlica, que cuidou da parte escrita e dos desenhos. “A gente já tinha feito uma brincadeira com os personagens. Tipo, eu sou a Emilly, o Antony é o Void, a Gisele é a Katlen, a Kênia é o Robson, o Brayan é o Leozinho, a Maria Clara é a Estrela, a Ana Sofia é a Lua e a Betina é a cachorra Pink”.
O encerramento do programa foi marcado por emoção e poesia. Natalia leu “Na Praça da Bandeira”, poema de sua autoria, inspirado em uma visita ao ponto turístico de Encantado.
